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A Revolução dos Video-Discos
Por ANA ROCHA
Durante as décades de 50 e 60, o rock diffus-du-se graças à rádio que divulgava constantemente os sucessos do momento. Os primeiros escãndalos desta música provocante e barulhenta vieram abanar uma sociedade que saira da Guerra há pouco tempo, com preocupações de reconstrução da economia, pouco atenta sos jovens que assumidamente iam optando por um novo estilo de vida.
Hoje em dia, é a televisão a grande responsável pelo sucesso da música. Instrumento de massagem extraordinário, a televisão agita aqueles a quem se dirige e aqueles de quem fala. Todos os acontecimentos difundidos pe la televisão ganham logo uma dimensão diferente.
O fenómeno rock na América data dos anos 50. Na Europa, a sua expansão é relativamente recente, verificando-se a sua aceitação progressiva a partir da década de 70. Tendo-se transformado num facto social, aceite por todos, este tipo de música viu aumentar a sua popularidade com a difusão dos seus hits através dos vídeo-discos, das vídeo-cassetes, ou, como são designados em geral, dos vídeo-clips.
O vídeo-disco parch um spot publicitário, tem uma duração curta (entre 3 a 5 minutos) e é programado pelas televisões. A sua estética foi decalcada da publicidade: os planos não duram mais do que poucos segundos, as imagens têm muita acção, a sua função é a de levar o espectador a comprar ou a consumir o disco.
Quais as vantagens do vídeo-disco? Eles permitem difundir em todo o mundo, com simultaneidade, um filme único, o qual permitiu aos cantores traduzir por imagens a sua música dando maior força às suas ideias. Em plena época do audio-visual, o vídeo-disco é um investimento de pouco custo, especialmente se compararmos esse investimento com o que é feito nos filmes. Um clip de nível razoável custa um mínimo de oito milhões de escudos.
A rodagem de um vídeo-disco permite controlar todos os pormenores da apresentação dos músicos, de forma a tornar perfeito o produto final.
O desenvolvimento dos novos modos de comunicação (cadeias de televisão por cabo ou retransmitidas por cabo, telemática, vídeo-cassetes) corresponde à multiplicação dos masse media.
Durante os anos de 82, 83 e 84, os clips invadiram os canais de televisão de todo o mundo. Inicialmente eram usados para tapar os buracos entre os programas (em Portugal, a maior parte deles são ainda utilizados dessa forma), para fazer passar o tempo de forma agradável e ao mesmo tempo rendosa. Depois, eles passaram a ser a resposta da indústria discográfica à crise em que esta mergulhou nos últimos cinco anos. Depois do boom dos anos 60-70, o ano de 79 marcou uma enorme viragem para esta indústria. Vendo descer de forma espectacular as vendas, as casas de disco procuraram encontrar uma solução para o problema (no ano de 82, nos E.U.A. houve uma baixa de vendas de Lps entre 30 a 40%. Na Grã-Bretanha, as estatísticas indicavam que as vendas dos LPs tinham passado de 86 milhões em 1978 para 57,8 milhões em 1982). Para vender melhor, as empresas discográficas descobriram que o remédio era passar a vender o seu produto através de imagens mais sedutoras. Com a crise, o mercado reorientou-se para a venda dos singles. Todo o esforço promocional das editoras passou a concentrar-se na fabricação de hits, capazes de compensar as enormes perdas. Um hit é uma canção muito popular, que é divulgada de forma sistemática nos meios de comunicação (rádio e televisão). A sua repetição constante é a primeira condição para que os donos das lojas de disco tomei consciência de que ela existe, encomendando-a para satisfação dos desejos dos seus clientes.
Nos centros comerciais, nos grandes armazéns, nas discotecas da moda, chamando a atenção dos clientes, a música e a imagem são difundidas pelos écrans e alti-falantes, ficando as imagens gravadas na memória dos eventuais compradores. Os músicos sentem-se satisfeitos com a utilização dos vídeo-discos porque esta forma de os filmar permite-lhes um maior controlo da sua imagem, captando-os em momentos mais felizes, de forma mais favorável.
A técnica do vídeo é mais rápida do que a do cinema, permitindo fazer mais pesquisas e inovações. Os técnicos podem ver logo os resultados do seu trabalho. Adaptando-se ao funcionamento do cérebro, o vídeo também acumula a vantagem de ser mais económico do que o cinema. Os mais optimistas dizem que dentro dos próximos cinco anos, só se farão metragens em vídeo, devido aos enormes custos do cinema. As experiências de Jean-Luc Godard com o vídeo, nos anos 70, foram pioneiras. Mais recentemente, cineastas de renome utilizaram efeitos vídeo nos seus filmes, de forma tão extraodinária que imediatamente ganharam o aplauso da critica e do público (basta citar casos exemplares como o de Francis Coppola em «One From The Heart», Antonioni com «O Mistério de Oberwald» e Ridley Scott com «Blade Runner»).
Durante vinte anos, a vogo do rock foi-se ampliando e as cadeias de televisão começaram a ceder orçamentos cada vez mais volumosos a emissões musicals. O sucesso crescente do rock relaciona-se com a organização cada vez maior do mercado discográfico. Com a possibilidade de lançamento simultâneo em dezenas de países (do Japão à Europa, da Grã-Bretanha aos E.U.A.), o vídeo-disco veio acelerar este processo, dado que ele constitui uma maneira incomparável de o músico estar presente promocionalmente em qualquer país, estando noutro local na realidade.
A evolução rápida das técnicas vídeo, a miniaturização, a multiplicação das possibilidades de montagem e de trucagem ligadas aos progressos da informática, o abaixamento dos custos de material, tornaram o emprego do vídeo muito frequente e mais ao alcance de orçamentos pequenos.
Os filmes musicals «Woodstock», «Gimme Shelter», «No Nukes», «Urgh A Music War» encontraram resposta favorável junto do público jovem. Os festivais de música passaram a ser obrigatoriamente difundidos pela televisão, dado os altos níveis de audiência televisiva registados nessas alturas.
Entretanto em todas as casas ao mesmo tempo, o clip é assunto de conversa e discussão em todo o lado, ao mesmo tempo, actualixando à força os espectadores de todo o mundo. As editoras fornecem os mesmos clips a todos os emissores.
Sucedem-se a ritmo ràpido os novíssimos Festivais, Feiras e Mercados Internacionais de Vídeo, Jogos-Vídeo e de Informática (em Vendée, em Saint-Tropez, em Deanville, por esse mundo fora). No meio do negócio, apareceu um novo género de pessoas que ocupam um lugar importante no mundo discográfico: são os programadores de vídeo-discos, o instrumento promocional que impera para as companhias.
Este desenvolvimento revolucionário é acompanhado pela tecnologia que constantemente lança no mercado instrumentos sofisticados de aperfeiçoamento da imagem vídeo.
Em França, no ano de 82, foram vendidos 250 000 corpos de computadores para jogos vídeo. A procura dos aparelhos é enorme. Os Estados Unidos são os maiores consumidores desta aparelhagem e das cassettes: em 82, venderam-se oito milhões e a tendência de compra é galopante, dado que a queda dos preços das novidades é anual. Na Grã-Bretanha, alugam-se semanalmente três milhões de cassettes gravadas. O mercado das cassettes piratas prolifera e as grandes companhias cinematográficas sofrem dores de cabeça com este boom que acusam de prejudicial para o seu negócio.
Até no Líbano em guerra, os clubes de vídeo proliferam (estão registados oficialmente 370 clubes). Em Moscovo e nas principais cidades da União Soviética, nas estações balneárias do Mar Negro, o mercado da pirataria vídeo é florescente e lucrativo. Claro que é um passatempo reservado apenas aos eleitos (filhos de altos dignitários), dado que o preço de um aparelho é de 370 mil escudos e uma cassette anda à volta de 2.300 escudos. Os filmes vídeo mais procurados na URSS são «Voando Sobre Um Ninho de Cucos», «Apocalipse Now», «O Padrinho», «O Caçador» e «Laranja Mecânica»…
Nos E.U.A., a MTV, cadeia privada de televisão, apresenta vídeo-discos vinte e quatro horas por dia, tendo uma audiência calculada de 17 milhões de telespectadores.
O público jovem pensa em música quase exclusivamente em termos de vídeo-discos. No dominio vídeo-musical de longa duração, as novidades são uma avalanche. Os consumidores procuram gravação em vídeo de concertos dos Dire Straits, Beach Boys, Police, David Bowie, etc. e as televisões negoceiam a divulgação destes mesmos concertos para o grande público. As novidades do momento são «Pat Benatar In Concert», «Dolly Parton In London», «Sweet Dreams» dos Eurythmics e a cassette histórica dos Beatles, «Magical Mistery Tour».
Os vídeo-discos podem ser de três tipos: 1. ele é realizado como instrumento de promoção, rodado em estúdio, com trucagens sofisticadas, cheios de efeitos, filme curto onde pode acontecer nem sequer vermos a banda em questão; 2. o arista ou o grupo são filmados por 4 ou 5 câmaras, numa emissão e depois a produção selecciona as imagens; 3. o vídeo-clip é apenas um extracto de uma emissão de televisão e o efeito final não é muito cuidado.
No nosso país, dois programas televisivos concebidos por Jaime Fernandes, «Vivamúsica» e «Estamos Nessa», realizaram clips de artistas portugueses, divulgando dessa forma a música dos UHF, GNR, António Variações, Lena d’Água e Banda Atlântida, Trovante, Jáfumega, Rui Veloso, entre tantos outros.
Foi sobretudo através desses dois programas que o público português teve oportunidade de contactar com o que estava a ser feito lá fora: o celebérrimo «Thriller» de Michael Jackson, «Let’s Get Phicical» de Olivia Newton-John, «Too Shy» dos KajaGooGoo, «Rio», «Girls On Film» e «Hungry Like The Wolf» dos Duran Duran, «Night People» dos Classix Nouveaux, «Only The Lonely» dos Motels, «Enola Gay» dos Orquestral Manouvres in The Dark, etc.
A nível mundial, os vídeo-discos de maior sucesso são os de Michael Jackson («Beat It», «Billie Jean» e «Thriller»), dos Rolling Stones, dos Police, Human League, Blondie, ABC, Joan Armatrading, Kate Bush, Kid Creole & The Coconuts, Stranglers, Soft Cell, David Bowie, Rod Stewart, Spandau Ballet, Grace Jones, Paul McCartney, Culture Club e Paul Simon.
O custo dos vídeos, que é elevado (em França, por exemplo, os maiores grupos nem sempre conseguem arranjar dinheiro necessário), é reembolsado sempre que o clip é passado na televisão.
«Thriller» de Michael Jackson custou a soma astronómica de um milhão de dólares e foi realizado por John Landis. Mais propriamente designado pelo nome de curta-metragem do que vídeo-clip, dada a sua duração (14 minutos), «Thriller» é promoção ideal do LP que detém o «record» de vendas mundial, com mais de 43 milhões de exemplares venoidos. A MTV pagou 250 000 dólares pelo direito de passar nos ecrans o documentário filmado durante a rodagem da curta-metragem e assim em três transmissões se reembolsou o milhão de dólares dos catorze minutos mais caros da história do cinema.
Pail McCartney não deixou passar a oportunidade de fazer dois temas com Jackson, o «Frango dos Ovos de Ouro», realizando «Say Say Say» e «The Girl Is Mine».
O póblico precisa da sua ração quotidiana de imagens e as editoras discográficas renovam as suas encomendas aos especialistas que conseguem realizar o encadeamento perfeito entre a música e a imagem. O progresso do marketing fez com que a aparência dos músicos, a sua imagem, começasse a contar tanto quanto a música.
O vídeo torna mais livre a televisão (especialmente o filme, claro está). Ele é a evasão, a escolha pessoal, a recusa da dominação da ideologia oficial. Para o público, o filme vídeo é a afirmação dos gostos pessoais.
O vídeo-clip situado a meio caminho entre a publicidade mascarada e uma nova forma de arte, é um fenômeno que aumentará o seu impacto nos próximos anos, respondendo a necessidades do mercado.
LISTA DOS VÍDEO-DISCOS MAIS FAMOSOS
«Avalon», Roxy Music. «Heart Of Glass» e «Call Me», Blondie. «Tainted Love», Soft Cell. «Night People», Classix Nouveaux. ABC «The Look of Love». «Babooshka», Kate Bush. «Don’t You Want Me» e «Open Your Heart», Human League. «Girls On Film», «Ria», «Hungry Like The Wolf», Duran Duran. «Golden Brown», Stranglers. «Walking Under Ladders» Joan Armatrading. «Enola Gay», «Maid Of Orleans» Orchestral Manoeuvres In The Dark. «I Don’t Remember», Peter Gabriel. «Ebony & Ivory» Paul McCartney e Stevie Wonder. «Abracadabra», Steve Miller Band. «Do You Really Want To Hurt Me», Culture Club. «Walking On The Moon», Police. «Tonight’s The Night» e «Baby Jane», Rod Stewart. «China Girl» e «Let’s Dance» de David Bowie. «Thriller», «Beat It», e «Billie Jean» de Michael Jackson. «Ribbon In The Sky» de Stevie Wonder. «Rock It» de Herbie Hancock. «Dancing With Myself» de Billy Idol, etc.